sábado, 28 de maio de 2011

Menos poesia, por favor

Menos poesia, por favor

Ontem

Foram precisos 17 dias (entre 3 e 20 de Maio) para que o Ministério das Finanças se dignasse publicar, no seu sítio electrónico, a tradução oficial do Memorando de Entendimento com a troika (MoU, às vezes aludido como MSEPC). Já se conhecia o texto inglês, e pululavam traduções ad hoc (nem todas de grande qualidade), mas faltava a versão que vincula o Estado.

"Que vincula" é força de expressão. Como reconhece a própria nota introdutória, em caso de conflito entre textos, vale o original inglês.

Precisamos ainda de conhecer, na nossa língua, em local governamental autorizado, e esperamos que antes do dia das eleições, uma série de outros documentos. A saber, o MEFP, sobre políticas económicas, embora parte do seu texto se integre no MoU, o Memorando Técnico (TMU) e o conteúdo preciso do (s) contrato(s) de empréstimo com a União Europeia (CE e BCE, 52 biliões) e com o FMI (para o desembolso a partir do EFF, já aprovado, de 26 biliões).

E, já agora, a versão oficial, ainda em português corrente, da famigerada Carta de Intenção dirigida à União, segundo dizem as más-línguas corrigida a conselho de Durão Barroso (sobretudo nas referências à situação interna nacional).

O Memorando Técnico causa particulares angústias a muitos sectores, porque é aí que se especificam e quantificam os programas, objectivos e metas gerais do MoU. Uma boa referência é o TMU grego, consultável emhttp://www.imf.org/external/np/loi/2010/grc/080610.pdf.

Um elemento que tem sido pouco salientado, durante a campanha eleitoral e nos defuntos debates a dois, é o facto de todas as entidades internacionais atribuírem a causa principal do mal português a problemas estruturais, de raiz.

Ou seja: embora todos reconheçam que as crises internacionais agravaram as feridas, todos afirmam, também, que foram essas feridas que nos deixaram mais vulneráveis às crises. E todos dizem que as medidas de combate do actual governo foram fracas, insuficientes, ou ineficazes.

Isto voltou a ser afirmado, no seguinte documento recente do FMI:http://www.imf.org/external/np/sec/pr/2011/pr11190.htm.

O diagnóstico dos que agora nos emprestam dinheiro não pode assim ser apagado pela poesia de campanha.

A cruel prosa dos factos canta mais alto do que as rimas de conveniência das (como diria o nosso Couto Viana) avestruzes líricas que por aí andam.